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Novas evidências científicas sobre o efeito Entourage de compostos canabinoides

O óleo extraído da cannabis possui uma diversidade de substâncias descritas, como os fitocanabinoides, flavonoides e terpenos. Dentre os mais de 150 fitocanabinoides conhecidos, o canabidiol (CBD) é o que têm ganhado mais destaque devido as suas propriedades terapêuticas.

O CBD foi descoberto na década de 60 e ganhou atenção especial devido à falta de atividade psicotrópica, excelente tolerabilidade em humanos e ao baixo potencial de abuso, em contraste com outras substâncias como o tetrahidrocanabinol (THC).

Evidências científicas pré-clínicas e clínicas apontam que o CBD possui propriedades anti-inflamatórias, antipsicóticas, antiepiléticas, entre outras. O CBD parece atuar como supressor de citocinas pró-inflamatórias, atenuando a inflamação, assim como pode exercer função neuroprotetora, especialmente em doenças neurodegenerativas como o Alzheimer e Parkinson.

O efeito “Entourage”

Apesar de sua importância, as propriedades medicinais do óleo da cannabis não se resumem somente ao CBD. Estudos científicos sugerem que outras substâncias também possuam efeitos terapêuticos, incluindo o THC.

Os terpenos são substâncias encontradas em uma variedade de plantas, alimentos e óleos essenciais. Além de possuir diversos efeitos benéficos ao nosso organismo, os terpenos também possuem uma potencial sinergia com canabinoides, como o CBD. Há evidências científicas que sugerem que, quando os canabinoides e terpenos existem em conjunto, os seus respectivos efeitos biológicos podem ser potencializados.

De modo similar, os flavonoides também parecem atuar sinergicamente com os principais canabinoides. Esse efeito sinérgico entre as substâncias aumenta os benefícios medicinais da cannabis, ao mesmo tempo em que modula eventuais reações adversas, como no caso do CBD que atua diminuindo a toxicidade do THC.

Estes efeitos são conhecidos com “Entourage” ou efeito comitiva. O efeito Entourage é a atuação de todos os compostos da planta em conjunto (canabinoides, terpenos e flavonoides) e que possui o poder de ampliar os benefícios terapêuticos que cada canabinoide possui individualmente.

Benefícios na utilização de óleos Full Spectrum

 

Diferentes tipos de óleo de cannabis são comercializados: Full Spectrum, Broad Spectrum e o CBD isolado. A grande diferença entre eles é o grau de processamento do óleo e quanto à pureza relativa ao CBD.

O óleo Full Spectrum representa a forma menos processada, contendo todos os compostos naturalmente encontrados na planta cannabis. Do ponto de vista do efeito entourage, o óleo Full Spectrum é a forma que possui maiores benefícios por conter uma gama completa de canabinoides atuando em conjunto.

Além disso, pesquisas científicas mostram que a utilização desse tipo de óleo permite que sejam alcançados efeitos terapêuticos em menores dosagens quando comparados aos outros tipos de óleos. Mas porque isso acontece?

Novo estudo explica como funcionam os produtos a base de CBD em baixas dosagens

Pensando neste questionamento, pesquisadores publicaram um recente estudo científico onde avaliaram o potencial de interações farmacocinéticas entre canabinoides em um extrato de cannabis Full Spectrum (Anderson et al., 2021). A hipótese dos pesquisadores é que as interações entre os constituintes da cannabis podem alterar substancialmente as concentrações plasmáticas dos canabinóides.

Para abordar essa hipótese, foram comparados parâmetros farmacocinéticos de um extrato Full Spectrum administrado oralmente em camundongos com extratos de canabinóides individuais em doses equivalentes.

Ao analisar o plasma sanguíneo dos animais, os cientistas descobriram que os canabinoides parecem interagir de modo a produzir concentrações mais altas de ácido canabidiólico (CBDA). O CBDA é um precursor do canabidiol na planta e, de fato, o estudo indicou uma concentração até 14 vezes maior da molécula quando administrado o óleo Full Spectrum.

O estudo indica que a atuação conjunta dos compostos do óleo ajuda a aumentar a absorção de CBDA na corrente sanguínea. O THC parece interagir com proteínas de transporte no epitélio intestinal, aumentando a concentração sanguínea do CBDA nos camundongos.

Potencial terapêutico do CBDA

As evidências terapêuticas do CBDA ainda são emergentes, mas ensaios pré-clínicos indicam que esse composto possui efeitos ansiolíticos, anti-inflamatórios, anticonvulsivantes e antieméticos. No entanto, cientistas acreditam que o CBDA possua um potencial medicinal ainda maior.

Em conjunto, os resultados do estudo indicam que, possivelmente, o aumento de concentrações de CBDA podem ser uma das razões que explicam a maior eficácia terapêutica de doses mais baixas de óleos Full Spectrum.

Os próximos passos envolvem a realização de ensaios randomizados controlados por placebo para examinar se o CBDA tem efeitos terapêuticos em humanos e se os resultados relativos à suas concentrações plasmáticas também são replicados em testes clínicos.

 

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Referências:

Anderson, L. L., Etchart, M. G., Bahceci, D., Golembiewski, T. A., & Arnold, J. C. (2021). Cannabis constituents interact at the drug efflux pump BCRP to markedly increase plasma cannabidiolic acid concentrations. Scientific Reports, 11(1), 1-14.

Anderson, L. L., Low, I. K., Banister, S. D., McGregor, I. S. & Arnold, J. C. (2019). Pharmacokinetics of phytocannabinoid acids and anticonvulsant effect of cannabidiolic acid in a mouse model of Dravet syndrome.J. Nat. Prod. 82, 3047–3055

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Chye, Y., Christensen, E., Solowij, N., & Yücel, M. (2019). The endocannabinoid system and cannabidiol’s promise for the treatment of substance use disorder.Frontiers in psychiatry.

Pamplona FA, da Silva LR, Coan AC. Potential Clinical Benefits of CBD-Rich Cannabis Extracts Over Purified CBD in Treatment-Resistant Epilepsy: Observational Data Meta-analysis. Front Neurol. 2018 Sep 12;9:759. doi: 10.3389/fneur.2018.00759. Erratum in: Front Neurol. 2019 Jan 10;9:1050.

Rock, E. M., Limebeer, C. L. & Parker, L. A. (2018). Effect of cannabidiolic acid and ∆9-tetrahydrocannabinol on carrageenan-induced hyperalgesia and edema in a rodent model of inflammatory pain. Psychopharmacology 235, 3259–3271

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